03/10/2015

Já achamos água líquida, mas que formas de vida poderiam viver em Marte?



Nesta semana, a NASA reacendeu nossas esperanças de encontrar vida alienígena quando anunciou a primeira evidência direta de água líquida em Marte. Mas antes de começarmos a nos entregar a fantasias de caranguejos espaciais e seres reptilianos, devemos lembrar que Marte é um mundo frio com uma atmosfera fina. E isso levanta uma questão óbvia: que tipos de formas de vida realmente poderiam viver lá?
Para tentar responder a esta pergunta, a jornalista científica Maddie Stone, que escreve para sites como o Gizmodo, foi buscar informações em artigos e livros, entre eles: “Spectral evidence for hydrated salts in recurring slope lineae on Mars”, publicado este ano na revista “Nature Geoscience”; “Some like it cold: understanding the survival strategies of psychrophiles”, publicado no “EMBO Repots”, em 2014; “Polyextremophiles: Life Under Multiple Forms of Stress”, obra de 2013, editada por Joseph Seckbach, Aharon Oren e Helga Stan-Lotter; e “A Microbial Oasis in the Hypersaline Atacama Subsurface Discovered by a Life Detector Chip: Implications for the Search for Life on Mars”, publicado em 2011 na revista “Astrobiology”.

Stone explica que qualquer vida em Marte hoje é quase certamente microbiana, mas, além disso, não podemos ter certeza de nada até que realmente consigamos estudá-la. Ainda assim, podemos fazer algumas suposições sobre a natureza da vida marciana, dando um mergulho profundo em algumas das amostras mais estranhas de biologia no planeta Terra.
Frio e salgado

Para a Agência Espacial Norte-Americana, a “evidência mais forte até agora” de que a água líquida flui de forma intermitente na superfície marciana vem de uma nova análise espectroscópica, que encontrou sais percloratos hidratados em manchas de escoamento nas paredes de crateras marcianas. Dissolver o sal na água é uma das melhores maneiras de evitar que ela congele em temperaturas abaixo de zero, e sais de perclorato, que consistem em cloro e oxigênio ligado a vários outros átomos, fazem este trabalho melhor do que a maioria dos sais. Sabe-se que certos percloratos evitam que líquidos congelem a temperaturas tão baixas quanto -70 graus Celsius.
Então, acredita-se que em Marte a água líquida salgada ocasionalmente flui para baixo nas paredes das crateras, depositando faixas sal à medida que evapora na atmosfera fina do Planeta Vermelho. Uma das coisas que ainda não sabemos é se toda essa água tem origem em reservatórios do subsolo, ou se os sais percloratos estão literalmente puxando vapor de água do ar.
Porém, antes de nos afundarmos em nossa especulação biológica, é importante ter em mente que estas salmouras podem ser extremas demais para abrigarem qualquer tipo de vida. “Há salmouras na Terra que são muito salgadas para ter vida”, observa Chris McKay, astrobiologista da NASA e entusiasta da terraformação de Marte, em entrevista ao Gizmodo. “A mais famosa delas é o Don Juan Pond, na Antártida. A salmoura [marciana] é ainda mais salgada do que a salmoura de cloreto de cálcio no Don Juan Pond”.
Seja como for, estas salmouras ainda são um bom lugar para começarmos a imaginar os tipos de habitats que poderiam existir em Marte, e as adaptações que a vida precisaria ter para sobreviver em tais condições. Então, que tipo de formas de vida podem viver em água muito fria e muito salgada?
Microrganismos resistentes


Ao longo dos anos, os cientistas identificaram uma ampla gama de micróbios halofílicos (que podem se desenvolver em ambientes com concentrações muito altas de sal) e psicrófilos (capazes de viver e de se reproduzir a temperaturas muito baixas) aqui na Terra. Recentemente, encontramos até mesmo alguns psicro-halofílicos – isso mesmo, que amam o frio e o sal – que prosperam em lagos salgados da Antártida ou veias de líquido prensadas entre camadas de gelo glacial. Os limites de temperatura e de salinidade para estes organismos não estão bem estabelecidos, embora tenha sido proposto um limite aproximada de -12° C para a divisão celular e -20° C para funções metabólicas básicas. Um psicro-halofílico, o Psychromonas ingrahamii, se cria a temperaturas tão baixas quanto -12° C e concentrações de sal de até 20%.

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