04/06/2016

5 ideias incorretas sobre a Segunda Guerra Mundial

A tendência humana de simplificar eventos complexos traz alguns problemas no estudo da história. Veja cinco ideias incorretas que ainda são associadas à 2ª Guerra Mundial:

5. Hitler tinha controle total das forças armadas alemãs

A figura do Führer Hitler nos faz pensar que ele tinha a Alemanha inteira na palma da mão. A verdade, porém, é que nem todos os setores militares aceitavam o que estava acontecendo no país. A marinha alemã, a Kriegsmarine, tinha a lealdade totalmente voltada ao Estado, mas não confiava muito nos políticos e nos partidos.
Erich Raeder, Grande Almirante da marinha durante a primeira metade da guerra, resistia ativamente a qualquer tentativa de tornar a Kriegsmarine nazista. Ele ficou famoso por discussões aos gritos que chegavam a durar duas horas com Hitler.

Claro que ele não conseguiu manter-se no cargo por muito tempo. Em 1943, ele foi substituído por um sucessor mais amigável com o nazismo, mas mesmo assim a marinha deu um jeito de manter uma pequena distância do partido.
A Kriegsmarine até tinha uma regra que antes dos marinheiros irem para a primeira missão, tinham que se desfiliar do partido nazista. Isso não significa que a marinha chegou a lutar contra as atrocidades que aconteceram na Alemanha. Mas ela foi terreno fértil para desertores como Almirante Canaris, que colaborou com generais na Frente Oriental para usar uma garrafa de conhaque para tentar explodir o avião de Hitler em 1943.
Outro exemplo de resistência nas forças armadas aconteceu em 1942, quando o Wehrmacht, ou força de defesa, passou a aceitar cidadãos soviéticos para apoiar seus soldados na invasão à União Soviética. Hitler disse a eles para parar de recrutar raças inferiores para o seu exército, mas os oficiais responsáveis pela invasão pediram educadamente que ele fosse catar coquinho. No final de 1942, 700 mil dos três milhões de soldados eram soviéticos.
Para finalizar, a arma chamada Sturmgewehre que foi muito útil na Frente Oriental foi criada contra as ordens de Hitler.


4. Prisioneiros de guerra nazista foram punidos

Depois de terminada a guerra, milhares de prisioneiros nazistas se safaram. Os Estados Unidos aprisionaram 400 mil deles em campos no estado de Texas e outros locais. Se você pensa que eles foram tratados de forma remotamente semelhante à que eles trataram os prisioneiros judeus, comunistas e homossexuais, está muito enganado.
Eles foram reunidos em campos de prisioneiros, mas receberam tratamento praticamente de turistas em um camping. Eles eram bem alimentados e até recebiam vinho e cerveja com as refeições.
É verdade que os prisioneiros tiveram que cumprir trabalhos forçados, mas eles consistiam em trabalho em fazendas, nada muito drástico como, vejamos, incinerar crianças de seu próprio povo. Muitos deles afirmaram que a vida nesses campos era melhor do que quando eram soldados alemães.
Eles foram devolvidos à Alemanha em 1946, sendo que alguns mantiveram contato com os amigos norte-americanos que fizeram enquanto eram prisioneiros. Muitos acabaram se mudando para os EUA mais tarde, ganhando até cidadania americana.
Você pode pensar que os EUA não sofreram tanto com as atrocidades alemãs, e que locais como a União Soviética dariam uma punição à altura. Isso não aconteceu. Em 1943, Stalin ordenou que os prisioneiros do Eixo, incluindo alemães, fossem bem tratados. Como resultado, esses prisioneiros tiveram melhores condições que os próprios civis soviéticos que foram capturados.

3. A Segunda Guerra Mundial foi uma guerra mundial


Este mito diz que a Segunda Guerra Mundial começou quando os nazistas invadiram a Polônia e acabou quando os Estados Unidos devastou as cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki.
O que chamamos de “Guerra Mundial” na verdade foi uma aglomeração de conflitos diferentes, muitos deles independentes e com duração que extrapola os anos de 1939-45. Apesar de ter sido convencionado que a invasão à Polônia em 1939 marca o início da guerra, também é possível argumentar que ela não tomou sua forma característica até 1941, com a entrada dos EUA na guerra e a invasão de Hitler à União Soviética.
Também é possível adiantar a data de início do conflito, já que o Império do Japão tentava dominar a Ásia e o Pacífico e estava em conflito com a República da China em 1937, matando mais de 20 milhões de chineses (a maioria civis). Outro fato importante que aconteceu em 1937 foi a entrada da Itália no pacto Antocomintern, que já havia sido assinado entre o Império do Japão e a Alemanha nazista no ano anterior. Assim foi formado o grupo que mais tarde seria conhecido como o Eixo.
Em outras palavras, a Segunda Guerra Mundial seria melhor classificada como uma era na história do que como um conflito singular.

2. Apenas o Eixo cometeu crimes de guerra; os Aliados tentaram impedi-los

O Reino Unido e Estados Unidos mataram entre 18 e 25 mil civis no bombardeio da cidade Alemã de Dresden. O ataque não tinha nenhum grande motivo “nobre” (se é que um ataque pode ser classificado como nobre), mas sim “explorar as condições confusas” da cidade. E Dresden foi apenas uma das cidades atacadas pelos Aliados pelo mesmo motivo.
Além disso, soldados e civis capturados pelos Aliados durante o conflito também foram massacrados. Há relatos de soldados Aliados mantendo crânios japoneses como troféus da guerra. Também não podemos esquecer as bombas nucleares de Hiroshima e Nagasaki, que pegaram civis completamente desprevenidos.

1.       A bomba atômica finalizou a guerra


Do ponto de vista japonês, as bombas nucleares isoladamente não foram motivo suficiente para declarar a rendição. Um dos fatores que realmente motivou que isso acontecesse, de acordo com líderes japoneses, foi o ataque violento norte-americano no verão de 1945, que matou mais de 250 mil pessoas e deixou centenas de milhares feridos. Esse número é semelhante aos dos ataques de Hiroshima e Nagasaki somados.
Foi nesse ponto que os japoneses perceberam que haviam perdido a guerra, mas ainda não pensavam em se render. Ao invés disso, tentaram negociar um armistício, acordo que suspende temporariamente as hostilidades entre países. O presidente norte-americano Truman rejeitou o acordo.
O que teria realmente motivado a rendição foi a invasão da União Soviética à Manchúria, região no leste da Ásia que inclui a China e uma parte da Sibéria. Claro que as bombas nucleares foram um show de horrores, mas se não fosse pelos outros fatores aqui mencionados, é provável que o Japão não tivesse desistido naquele momento.



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