31/12/2014




DESEJO A TODOS MEUS ALUNOS, EX-ALUNOS, ETERNOS AMIGOS.
PROF. EGON.



26/12/2014




ACONTECERAM ALGUMAS MUDANÇAS EM RELAÇÃO À RADIO. NÃO POR MINHA CULPA OU DO PROF. VITOR, MAS PERDEMOS O LINK DA ANTIGA RÁDIO. MAS CONSEGUI ESTAS OUTRAS. COMO FUNCIONA? SIMPLES MEU POVO, É SÓ CLICAR EM CIMA DA IMAGEM OU DO LINK E IR OBEDECENDO O SITE DA RÁDIO EM QUE VOCÊ CLICOU, OK?? 
ASSIM MEU ALUNO TEM MAIS OPÇÕES, POIS PODE OPTAR POR ESTILOS MUSICAIS DIVERSOS.
DIVIRTAM-SE TODOS.


PROF. EGON

24/12/2014


É O QUE DESEJO A TODOS, AMIGOS E ALUNOS QUE ME AJUDARAM A FAZER ESTE ESPAÇO CULTURAL. FELICIDADES A TODOS.

22/12/2014

BOM DIA, BOA TARDE, BOA NOITE:

Hoje, segunda feira, está um dia feio, chuvoso, cinza. Pensei em postar algo pra animar este dia. Bom o quê? Rock and roll é claro. Abaixo alguns vídeos recentes de artistas internacionais e seus mais recentes álbuns. Vale a pena procurar e baixar na rede. Ou então só curtir estes vídeos.
E aumenta o som pois isso é ROCK AND ROLL.











21/12/2014


Shows de rock em Lego? vi uma postagem no Whiplash e achei engraçado. Na verdade achei muito legal. E o trabalho pra montar, e filmar e cortar, montar, etc? Perfeito pra um dia feio como este domingo. Metallica, Ramsteinn, Queen.
Divirtam-se:




E no final shows de verdade, com bandas de verdade.
METALLICA:


E aqui uma das minhas preferidas,
STRYPER




20/12/2014


JERUSALEM JONES: CHUVA OBSCURA

Image and video hosting by TinyPic

De repente eu percebi que estava sonhando. Isso nunca me aconteceu antes. Talvez fosse o fato de que Billy Andrews já estivesse morto há uns 10 anos e agora estava ali, na minha frente, bebendo na mesma mesa, comigo. Sinto muito, Billy. Ao perceber que era um sonho, passei a prestar atenção com mais calma ao lugar onde eu estava. Era um salloon, com certeza, mas havia algo de diferente nele. Quero dizer, além do fato de ser um bar em um sonho. Na minha mesa estavam o Billy e mais alguns amigos que eu não via há muitos anos: Johnny Perneta, que na verdade tinha as duas pernas; Sally Salt, uma antiga namorada; Solomon, que ninguém sabia o sobrenome; e Mark Cara de Fuinha. Conversavam animadamente entre si.

O restante do povo eu realmente não conhecia. Sem contar que era uma turma muito estranha. Mas, como era um sonho, talvez isso fosse de se esperar. No balcão, um cara todo de preto, que parecia não gostar de se pentear, bebia e conversava com uma garota que tinha umas pinturas estranhas no rosto. Ela também gostava de preto. Pareciam irmãos.

No mais, havia uma mulher gorda que era uma das coisas mais feias que já vi na vida, e ela parecia estar pelada. Um outro ou outra que eu não sabia se era homem ou mulher e uma espécie de monge, que ficava num canto com um livro enorme, aberto. Eu não conseguia ver seu rosto.

Correndo pelo bar, com um cão, estava uma garotinha toda colorida. Eu gostava dela. De vez em quando ela me olhava de um jeito estranho e me chamava de tio Jones. Haviam muitos outros, mas eu realmente nunca vira aquele pessoal. A não ser a bartender, ela era a Gail. Eu a conhecia de alguma das cidades por onde andei. Ela me disse até seu nome completo: Gail Neyman. Ela tinha um sotaque engraçado.

Eu estava distraído, analisando esse povo todo, quando Billy, o Morto, me dirigiu a palavra;

- Jones, vai nos contar a história que prometeu?

- Eu prometi?

- Sim, algo sobre chuva e um cavalo, uma coisa assim.

- Ah, lembrei. - e realmente tinha lembrado, da história, mas não de ter prometido contar. Estranhamente o cara despenteado e a garota com ele se viraram para prestar atenção. Os outros não deram grande importância e continuram apenas a beber ou a brincar com seu cão, como era o caso da garotinha colorida. Eu me sentia estranho naquele sonho, mas queria mesmo contar a história:

Não gosto de chuvas pesadas. Me lembram de quando eu nasci. E, não me perguntem como lembro disso. Só sei que estava em Pecos quando desabou uma dessas chuvas que parecem o dilúvio de Noé. Eu estava em uma pensão e quando a chuva mostrou que não ia parar tão cedo, eu fui procurar meu cavalo que comprara há pouco tempo. E não me olhem assim, eu comprei mesmo. Era o Chase. E eu gostara dele logo de cara. Não queria que ele se afogasse lá fora. Saí para pegá-lo e levá-lo para algum estábulo ou coisa parecida. Mas, não o encontrei. Na verdade, a chuva parecia não deixar eu vê-lo, nem a nada mais. Era uma chuva esquisita, pesada e escura.

Eu saí da proteção onde me encontrava e senti quando ela caiu sobre mim. Em questão de segundos eu estava molhado até os ossos. Parecia que eu estivera naquela chuva maldita desde que nasci. Minha roupa estava encharcada e tive de me livrar do chapéu.

Chase não estava no lugar onde eu o deixara. Eu não podia perder o cavalo, era o primeiro que eu comprava em muittos anos. O cara do cemitério me vendeu barato, mas com o pouco dinheiro que eu tinha, ainda assim era caro. Pensando naquele momento, me perguntei quem vendia cavalos a beira de um cemitério. Não devia atrair muitos clientes.

>Mas, deixei esses devaneios de lado e continuei procurando Chase pelas ruas da cidade. A visão falhava devido à chuva e alguns lugares começavam a alagar. A água era preta. Não fedia, nem nada. Era apenas água... preta. Ninguém mais parecia se incomodar com aquilo. Por um momento me perguntei se apenas eu enxergava a água daquela cor.

Estava quase desistindo da procura, já que daquele jeito seria impossível, quando escutei um relinchar que eu já conhecia: Chase! Fui na direção do som, e avistei, entre a chuva negra que caía, um vulto de um cavalo a alguns metros de distância. Porém, na frente dele, haviam quatro caras perfilados. Não entendi o significado daquilo, e disse apenas:

- Podem me deixar passar e pegar o cavalo? Ele é meu. Podem acreditar. - falei isso gritando, já que a chuva tornava difícil a comunicação. Eles pareceram escutar, e os quatro falaram ao mesmo tempo.

- Acreditamos sim. Mas o cavalo é nosso. - aquilo arrepiou minha espinha de tal forma que gelei mesmo já estando totalmente frio por causa da maldita chuva. Tinha água nos meus olhos, boca, nariz, bunda. Em tudo. E agora eu corria o risco de perder meu cavalo novo.

- Olha, se o cavalo era de vocês, e foi roubado, não tenho culpa. Podemos ir até o xerife e ele pode encontrar o cara do cemitério para que resolvamos a situação.

- Já está tudo resolvido - continuavam falando em coro, com aquela chuva tornando suas vozes mais estranhas ainda - o cavalo é nosso, Jones.

Depois que os quatro disseram isso, um deles disparou correndo em minha direção. Não entendi o porque de tanta confusão por causa de um cavalo, mas não podia ficar ali sem reagir. Minhas armas não prestavam para nada. Estavam encharcadas. Quando finalmente o louco se aproximou o suficiente, eu levantei a perna direita para o pé encaixar certinho no peito dele. Ele caiu e eu também. Eu retirei o sobretudo molhado e me preparei para o pior.

Os outros três fizeram um círculo a minha volta, enquanto o que levou um chute nos peitos se levantava. A chuva parecia mais furiosa. e eu mal conseguia enxergá-los. Pelo menos atirar não podiam também. Pelo jeito ia ser na base da porrada. O primeiro e o segundo vieram correndo, eu agarrei o punho do primeiro e soquei a cara do segundo com o mesmo. O terceiro já vinha para ajudar. Me acertou no estômago, mas eu consegui evitar que fosse pior. O soco na cara veio sem eu esperar. Cambaleei para trás e quase caí. Fazia muito tempo que eu não enfrentava quatro. Meu nariz devia estar quebrado.

Antes que eu pudesse recuperar todo o controle da situação, dois me seguraram os braços e o que eu chutei devolveu a cortesia e me chutou nos peitos. Eu não caí, porque os dois malucos me seguravam. Antes que o quarto viesse me dar um chute também, eu me agachei arrastando os dois comigo e eles bateram suas cabeças. Fiz questão que fosse com muita força. Iam demorar um pouco pensando em como duas cabeças doem mais que uma. Os dois restantes se abalaram, mas não por muito tempo. Resolveram apelar para facas que, mesmo molhadas, funcionavam.

Quando o primeiro corte no braço veio, eu despertei como se a queimação fosse um balde de água fria. Eu estava perdido na briga até aquele momento. A chuva lavava o sangue e o sangue me dava nova energia. Agarrei o punho de um deles e fiz o que devia ser feito: torci e ele soltou a faca. Me abaixei para pegar no mesmo instante que o segundo vinha me esfaquear a garganta. Ele tropeçou em mim, eu levantei e levei-o junto. A queda foi fatal, com sua faca entrando pela barriga. Aquele de quem eu pegara a faca, arregalou os olhos. Os dois da cabeçada também procuravam facas em suas roupas. Eu joguei a faca que peguei em um deles, a chuva me atrapalhou e eu errei.

O de pulso quebrado ainda tentou revidar. Mesmo com o braço sangrando, eu dei um soco com toda a força que ainda me restava e o levei a nocaute. Não ia mais poder dar outro soco daqueles naquela briga. Os idiotas da cabeçada acharam suas facas. Eu peguei uma perdida no chão. Dois contra um. Dançavamos a dança da morte na chuva negra. Atrás de mim, Chase bufava nervoso. Parecia querer ajudar, mas não podia. Não notei se ele estava preso ou algo assim. A chuva parecia que não ia parar nunca mais.

Os dois correram para me esfaquear. Eu joguei a faca de novo, em um deles. Acertei o olho do que estava mais adiantado. Tinha mirado no peito. Dane-se, não vou reclamar. O segundo veio gritando, com a água da chuva entrando por sua boca, e fazendo um barulho bizarro. Eu tentei desviar, mas tropecei num dos malucos no chão e me desequilibrei. O desgraçado acertou a faca até o cabo bem no centro do meu peito. A minha faca, no entanto, estava enterrada bem no centro do seu crânio. Puro reflexo. Eu ia morrer, mas ia morrer feliz.

Ele caiu, e eu também. Chase bufava alto e batia os cascos na lama. Parecia inconformado. Bufava alto. Acima, até mesmo, da chuva. Então, ouvi uma voz no meio da chuva obscura:

- Ok, ok, cavalinho. Você tem razão. Ele acertou o enviado primeiro. O cavalo é todo seu, senhor Jones. Afinal, nem tudo se paga com dinheiro neste seu mundo, meu caro homem. Não que eu vá devolver suas moedas, nada disso. Mas, Chase não poderia ir assim, tão barato. A chuva vai parar em breve. Os enviados irão com ela. Vá para casa sr. Jones, e leve Chase, ele parece estar faminto. Adeus, meu caro amigo.

- Não... sou... seu... amigo.

- Sr. Jones, eu falava com o cavalo.

Eu nunca tive certeza, mas, parecia a voz do homem do cemitério. A chuva e a faca no meu peito não me permitia vê-lo direito. Quer dizer, a faca que antes estava em meu peito. Quando ele parou de falar, e foi embora, não havia mais nada lá. Nem faca, nem ferimento. Os caras ainda

Chase veio na minha direção, todo molhado, e me lambeu. Eita cavalo caro da porra. Subi nele e fui na direção da pensão. A chuva continuava, mas era normal agora. Uma chuva como outra qualquer, e eu levantei o rosto e me deixei lavar por ela. Chase parecia fazer o mesmo.

Quando terminei a história, o bar estava vazio, incluindo minha mesa. Quase vazio, quero dizer. O homem despenteado estava na porta, se preparando para ir embora e, olhou para mim com aqueles olhos estranhos e disse apenas:

- Belo cavalo, Sr. Jones.


JERUSALEM JONES E A MORTE DO MAGO

Image and video hosting by TinyPic


Jimmy estava morrendo e Jerusalem Jones não sabia o que fazer. Aparentemente ele não estava ferido. Os dois estavam bebendo tranquilamente, naquele saloon vazio, quando Cranston caiu e começou a ter convulsões. Jerusalem tentava segurá-lo, mas as convulsões eram violentas demais. Até que pararam de repente e ele ficou gelado e sua respiração começou a diminuir. Parecia impossóvel, mas o "mago" estava morrendo, ali, diante de seus olhos. Sem saber o que fazer, Jerusalem sentiu um arrepio na espinha. Achou ser por causa da situação, mas não era. O tempo parou e sentiu a presença de alguém atrás dele. Quando se virou, havia um anjo, que se apoiava em uma longa espada flamejante. Olhava para eles com olhos serenos, mas acusadores. Calmamente o anjo - ou aquilo que parecia um anjo - disse:

- É um tumor no cérebro. Ele vai morrer em poucos minutos.

Confuso, e sentindo como se estivesse vivendo mais um sonho bizarro, Jerusalem Jones disse:

- Vai levá-lo para o céu? Me parece estranho que o Jimmy aqui mereça o céu. Mas, quem sou eu para reclamar.

O anjo deu um sorriso sarcástico e disse, como se fosse um favor responder a ele:

- James Cranston não vai a lugar algum. Nem céu, nem inferno. Já causou tantos problemas para os dois lados, que foi decidido eliminá-lo de vez da existência. Acordos feitos anteriormente ditavam que só era possível fazer isso após sua morte. Assim que ele morrer, eu deceparei sua alma da existência. Sempre há destinos piores do que morrer, Jerusalem Jones. Acho que você já sabe disso.

De repente, Jimmy sugou o ar uma última vez e morreu.

***

Jones e Cranston se conheceram em uma mesa de pôquer. JJ perdeu tudo que tinha para o inglês ruivo, que fumava mais do que todos na mesa. Claro, todos na mesa também perderam tudo para o inglesinho empedernido. O que Jones não entendia é que era um caso evidente de trapaça, mas nem ele, nem os outros jogadores se sentiam impelidos a acabar com aquilo. Apenas jogavam, vez após vez, e perdiam do mesmo modo.

Jones via que Cranston jogava sempre mexendo os lábios, como se conversasse consigo mesmo. Coisa até normal, já que jogadores sempre tinham algum tique estranho. Porém,aquilo o irritava mais do que tudo. Mas, novamente, ele não conseguia dizer ou fazer nada. Apenas jogar e perder.

Quando já estava perto de sair do jogo, por falta de dinheiro, a cicatriz em seu pescoço começou a coçar. E ele detestava quando aquilo acontecia. A cicatriz costumava coçar quando algo estava errado ou algo muito ruim estava prestes a acontecer. Para quem não sabe, JJ ganhou sua cicatriz quando foi mordido por uma morta-viva. Salvou-se de se tornar um deles, quando um amigo índio o levou até sua aldeia e o feiticeiro impediu sua transformação. Mesmo com alguma sequelas, Jones sobreviveu, ganhando essa terrível cicatriz no pescoço.

Pois, quando a cicatriz coçou mais forte, ele se sentiu desligado do que quer que fosse que estivesse acontecendo ali na mesa, se levantou e deu um soco na cara de Cranston e gritou:

- TRAPACEIRO, DSGRAÇADO!

Os outros não entenderam o que estava acontecendo. Jones se atracou com o inglês e a briga teria durado mais se ninguém os tivesse separado. Mais tarde, já mais calmos, os dois estavam no balcão, bebendo, quando Cranston perguntou:

- Como você conseguiu?

- Consegui o quê, inglesinho de merda?

Cranston entendeu que Jerusalem Jones não sabia o que havia feito. Mas resolveu explicar assim mesmo. Ele foi com a cara do pistoleiro com a cicatriz esquisita no pescoço. Disse que aprendera alguns truques, com um velho mago barbudo, de Northampton, na Inglaterra, e que às vezes - muitas vezes na verdade - usava-os para proveito próprio. Sem contar as vezes que se metia em confusões com os demônios que sem querer invocava quando tentava conseguir dinheiro fácil. O fato é que as pessoas na mesa estavam sob um desses feitiços que aprendera. Era um bem simples: desviava o foco de sua pessoa, para qualquer outra coisa, e nada do que ele fizesse pareceria importante ou errado. Mas, Jones conseguira sair do feitiço por tempo suficiente para entender que algo errado estava acontecendo. E Cranston o respeitava por isso.

- Acho que foi a cicatriz. É a única explicação que encontro. - JJ explicou como a ganhara e como escapara de um destino terrível. Cranston ficou admirado.

Cranston devolveu parte do dinheiro de Jones. A partir de então os dois se tornaram grandes amigos, com JJ sempre chamando-o de "mago", o que Craston sentia ser de forma debochada, mas não se importava. O pistoleiro já tinha vivido coisas estranhas o suficiente para saber que ele não estava mentindo.

Quando se encontravam, de tempos em tempos, cada um contava suas mais recentes aventuras. Em uma verdadeira competição de egos, cada um queria mostrar que sua vida era permeada por coisas mais bizarras possíveis, quer dizer, impossíveis. Estranhamente, nada acontecia quando os dois estavam juntos. Nenhum demônio, nenhuma aparição, nada. Pelo menos, não até aquela fatídica noite.

Cranston e Jones se encontraram por acaso, como quase sempre acontecia e estavam no saloon, bebendo. Cranston estava contando uma de suas aventuras:

- E o demônio ia destruir a cidade inteira. Segurava o menino, filho dos Denvers. Ia usá-lo como um portal para trazer sua Legião, ou algo assim. Eu finquei a cruz bizantina no chão e invoquei forças desconhecidas até para o demônio. O chão rachou em direção a ele e o desgraçado foi rasgado ao meio. Meu erro de cálculo foi não entender que o garotinho também morreria junto. A senhora Denver, ela avançou sobre mim com a força de mil demônios. Eu havia salvo a cidade, mesmo que meu interesse maior fosse me salvar, já que o demônio estava no meu encalço. Mas ela não se importava com quantas vidas eu acabara de salvar. Eu não sei de onde os Denvers eram. Pareciam descendentes de ciganos, ou coisa parecida. Só sei que a mulher agarrou minha cabeça com toda força e proferiu uma maldição:

"O mal que representas crescerá dentro de teus pensamentos. Tua morte virá ao teu encontro, quando menos esperar. O tumor que você é, é o que te matará. E o anjo golpeador de ti nos livrará."

- Depois disso, ela simplesmente voltou a si, e foi embora com o marido, como se nada tivesse acontecido. O senhor Denvers pegou o corpo do garoto e os dois se foram, abandonando a casa, a cidade. Fui até o lugar onde o demônio estava antes de ser rasgado e desaparecer da existência. Uma marca preta havia ficado no chão. Toquei o lugar tentando sentir a alma do moleque, mas eu não conseguia. Não estava em lugar nenhum. Era como se seu espírito tivesse sido eliminado da existência. Um botão da camisa do menino ficou para trás e eu guardei. Talvez na esperança de um dia sentir sua presença.

"Na maior parte do tempo eu não pensava no garoto. Até que as dores de cabeça começaram. Eram fortes, me deixavam desorientatado, e a maldição da senhora Denvers me vinha à cabeça. Tive a certeza que havia algo crescendo em minha cabeça. Creio que vou morrer em breve , JJ."

Foi quando Cranston segurou o braço de Jerusalem Jones e caiu sofrendo convulsões e o tal anjo apareceu.

***

- É chegado o momento, Cranston - dizia o anjo para o inerte mago, desfalecido no chão.

Levantando sua espada flamejante ele se preparava para golpear algo acima do corpo de Cranston, sua alma, talvez. Foi quando um botão de camisa caiu do bolso de Cranston. Jones o pegou e o sentiu quente, quase em brasa, mas não o largou. De repente, tudo ficou escuro e clareou, mas os olhos de Jones não eram mais seus, nem mesmo sua voz. Ele abriu a boca e falou com uma voz de menino:

- A maldição foi feita na hora da dor e da incompreensão. Não há autoridade aqui, nem sua, nem de teu Senhor. Acima de todos está quem os criou, deuses e demônios. É de onde voltei apenas para retirar a sentença. Volte para a direita de quem te enviou. Este homem, na sua arrogância, salvou mais vidas do que retirou. Quem decide o que é bom? Quem designa o que é mal? O tempo expira para ti, anjo. Expira.

JJ abriu e a mão e o pequeno botão voou na direção do anjo e se instalou entre seus olhos. Sua espada se apagou e seu grito ecoou por toda a cidade, mas apenas JJ o escutou. Um brilho intenso se transformou em escuridão e o anjo despareceu, deixando um vácuo em seu lugar que durou um segundo. Cranston tossiu e acordou.

- J-Jones, eu sabia que seria vantajoso me tornar seu amigo logo após seu primeiro soco. - E os dois caíram na gargalhada.



JERUSALEM JONES: FUGA NO SÉCULO 19Um Conto de Ficção-Científica no Velho Oeste

Os moradores de Smithson Town mal podem acreditar em seus olhos quando vêem um cavalo se aproximar, com um garoto inconsciente sobre ele. De repente, o garoto é erguido no ar, e flutua na direção da entrada do pequeno hospital da cidade. Todos olham aquilo, boquiabertos. Porém, antes que atravesse a porta do hospital, o garoto flutuante cai. Os que não correram, com medo, podem ver algo mais estranho ainda acontecer: aos poucos, o corpo de um homem começa a aparecer junto ao garoto. Quando está totalmente visível, alguém grita:

- Pelas barbas do profeta! É Jerusalem Jones!
Tudo começou quando eu resolvi dar uma de entregador e babá. Um garoto ia chegar em Smithson Town, vindo de algum lugar da Inglaterra. Seus pais telegrafaram para o prefeito e pediram que ele cuidasse para que o menino chegasse até o tio, dono de uma fazenda mais distante, nos arredores da cidade. A família Wells pedia que ele encontrasse alguém de confiança que o levasse. O retorno parece que ficaria a cargo do tal tio:

- Jerusalem Jones, não é que você seja de minha inteira confiança, é apenas o fato de que sei que quando você se compromete a fazer alguma coisa o faz, ou morre tentando. O Dr. Jack Griffin é um tio-avô do menino Herbert e a família Wells quer que ele passe uma semana com o doutor meio amalucado. Como não tenho ninguém disponível, já que o xerife não ia aceitar ser rebaixado a babá e nem admite que seus ajudantes o façam, eu queria aproveitar que você está indo naquela direção e oferecer uns trocados para que deixe o garoto na fazenda Griffin. Tudo bem?

- Claro, claro. Jersusalem Jones aceita ser feito de qualquer coisa, por um punhado de moedas. Brincadeira, prefeito. Gosto do senhor, e farei este favor. Claro, sem dispensar o pagamento simbólico. Ando precisando. Cadê o garoto?

Como que por mágica, aparece o menino arrastando uma mala maior do que ele. Tem uma cara engraçada, de quem está sempre pensando em alguma coisa inteligente para dizer.

- Eu vou ser escritor, senhor.

- É Jerusalem Jones. Ou senhor Jones. Ou J.J. Tanto faz. E sim, não duvido que vá ser escritor. Mas não agora, com esses míseros 10 anos.

- Como conseguiu essa cicatriz no pescoço, senhor?

- Ah, nem te conto. Isso daria um livro, e dos bons. Como vamos ficar juntos um tempo, eu te conto sim, mas cortarei as partes vergonhosas. - o garoto riu e montou em seu cavalo. Ele não cavalgava, mas eu conseguiria guiá-lo. A mala eu dei um jeito de arrumar no Irving. E, para quem não sabe, Irving é o meu cavalo velho de guerra.

Depois de muito bate papo e de eu me dar conta, assustado, de que eu tinha jeito com crianças, chegamos aos arredores da Fazenda Griffin. Eu só precisava entregar o garoto e seguir o meu caminho. O dinheiro era pouco, mas o trabalho também era, então eu saí ganhando.

Chegamos à casa principal, subimos os degraus da varanda e, quando vou bater na porta, um grito terrível vem de dentro da casa. Sem pensar - coisa da qual sempre me arrependo - eu jogo meu corpo contra a porta, e caio dentro da casa como um saco de batatas. A porta só estava encostada. Faço sinal para o garoto ficar do lado de fora. A casa é grande, não sei de onde veio o grito. Mas, logo a dúvida acaba assim que outro grito corta o silêncio. Vem de debaixo da casa. Deve ser o porão.

Procuro a porta que dê para baixo até que a encontro. Quando a abro, me deparo com uma cena completamente sem pé nem cabeça: o que deduzo ser Griffin está sendo atacado por três pessoas ou... animais. Pessoas-animais. Não sei o que são, mas não são amigáveis. Eles deixam o ferido Griffin de lado quando me veem. Quando me viro pra correr, trombo com o garoto. Os bichos vão me alcançar:

- Falei pra você ficar lá fora, garoto! Corre. - Os bichos já estão subindo as escadas. Gritam algo estranho para mim.

- MOREAU! MOREAU! MOREAU!

-Não sei quem eles pensam que sou, mas não sou o tal "Morrô" a quem parecem odiar. O garoto dispara pela porta. É quando o que tem cabeça de tigre me alcança primeiro. Estranhamente eu queria evitar isso. Acho que criaturas tão... diferentes, não deveriam morrer assim. Mas preciso sobreviver. Saco os revólveres e atiro no Cabeça de Tigre, depois no que parece um leão e na terceira, sim, parece uma fêmea, uma raposa ou algo parecido. Felizmente não são a prova de bala.

Volto ao porão. O garoto é teimoso e vem atrás. Desisto de mandá-lo embora. Creio que o pior já passou. Griffin está no chão. Ele está muito ferido, não vai sobreviver. Mas, a coisa toda é mais bizarra ainda. Sua mão direita sumiu e uma parte do rosto também. Mas, não foi arrancado pelas pessoas-animais. Simplesmente sumiu. Ele só tem metade do rosto. Que coisa estranha. O garoto parece fascinado com aquilo tudo.

- Cof...cof... Moreau disse... disse que eles eram confiáveis. Eu os prendi... mas fui... fui... negligente. Maldito Moreau. Tentei... usar o soro... para escapar. mas era tarde demais. Herbert? O garoto Wells? Meu sobrinho? Eu não esperarava recebê-lo assim... cof... me ajudem. Podemos consertar tudo se formos pra máquina. Mas eu não posso ir. Você... quem é você?

- Hã... Jerusalem Jones.... Mas eu não sei o que...

- Você precisa entrar na máquina e voltar no tempo. Impedir que eles se soltem. Impedir que eu...

- Ele está morto, J.J.?

- Ah, de repente esqueceu de me chamar de senhor. Sim, está morto. E delirando muito, antes disso. Se bem, que nem posso dizer que era delírio. Temos três provas lá em cima de que as coisas aqui andavam meio fora de controle. Vamos embora, garoto. Vou te levar para o prefeito.

- Mas, e a máquina. Você pode fazer o que ele pediu. Voltar no tempo, salvá-lo.

- Mas nem me pagando. Se realmente existe uma máquina para voltar no tempo, com certeza só iria piorar as coisas.

- Deve ser essa aqui. -diz o garoto abrindo uma cortina.

- Rapaz, você consegue ser irritante quando quer.

Olhei a tal máquina de longe. Parecia uma cadeira com um prato em pé atrás dela. Havia uma alavanca com um cabo de vidro, redondo. Cheguei mais perto e vi vários números do lado da alavanca. Horas, dias, meses, anos. Mesmo não sendo muito inteligente, entendi como funcionava. Se eu fosse para uma ou duas horas atrás, poderia salvar o cientista maluco. Supondo-se que aquela coisa funcionasse. Ela também poderia simplesmente não fazer nada ou explodir, levando a mim e ao garoto para o inferno. A maldita curiosidade me coçava. Até a cicatriz parecia ter começado a pulsar.

- Tá bom, tá bom. Vou te mostrar que isso não funciona, e aí vamos embora. - Eu disse, já sentando na tal máquina. Eu estava suando frio. Quando ia colocar a alavanca para 2 horas atrás, o garoto pulou para meu lado.

- Mas, eu também quero ir.

Foi uma desgraça. Ele esbarrou em mim e eu empurrei a alavanca para frente, em vez de para trás. Muito para frente. O prato gigante da máquina começou a girar e ela trepidava muito. Nem conseguia parar pra dar uns tapas no garoto, já que eu estava me cagando de medo. Tudo na nossa frente foi mudando, numa velocidade incrível. A fazenda se desfez, casas foram construídas, depois edifícios gigantes, e eles se desfizeram. Era o tempo passando. Quando desacelerou, a coisa não melhorou em nada.

A alavanca marcava 230 anos a frente. O céu estava negro. Bolas de fogo caíam dele. Mas, isso não era o pior. Grandes máquinas, do tamanho dos edifícios que vimos antes, andavam sobre três pernas imensas. De onde estávamos víamos a destruição. Elas atiravam nas pessoas que fugiam apavorada. Ou as capturavam. A maioria já estava morta. Um homem vinha em nossa direção. Trazia uma garota no colo, sua filha talvez:

- São marcianos. São malditos marcianos! Corram vocês dois. Não estamos com tempo para festas a fantasia. Fujam conosco. - e foi embora com a menina.

- Herbie, acho melhor sairmos daqui logo. Vou colocar a alavanca de volta ao zero. Deve ser o ponto de onde saímos. Depois pensamos melhor em como salvar seu tio, e se isso vale a pena. Aquelas coisas não estão tão longe, melhor nos apre... - um dos disparos veio em nossa direção, e acionei a máquina ao mesmo tempo.

Seja lá o que aconteceu, não foi algo bom. A máquina reverteu o tempo. Nos mandou de volta. Mas estava danificada, e fumegando. Tentamos correr, mas não deu tempo. Ela explodiu. Só deu tempo de eu me colocar atrás do garoto e tentar protegê-lo. Sei lá porque fiz isso. O fato é que fui atingido por grande parte da explosão que nos jogou longe.

Acordei muito depois. O laboratório no porão já era. Estava em pedaços. Mas, a casa parece ter aguentando o tranco. Devia ser reforçada para o caso desse tipo de coisa. Eu tinha sede. Minha garganta parecia cheia de areia. Devo ter ficado desacordado muito tempo, e o garoto ainda estava apagado. Eu tinha de levá-lo para a cidade, para um hospital. Mas eu precisava de água. Ou de uma bebida.

Uma dessas garrafinhas de uísque saía do bolso do Griffin. Ele estava soterrado. Mas a garrafa estava intacta. Retirei a tampa e bebi o pouco que tinha. Que era bem pouco mesmo. E não tinha gosto de uísque. Mas era bom, aquele troço.

Peguei o garoto nos braços e o levei até o Irving, que bebia sua água tranquilo, como se nada tivesse acontecido. Às vezes penso que esse cavalo não bate bem da cabeça. Coloquei o garoto sobre a cela, deitado de barriga. Estava vivo, mas não acordava. Tinha um galo feio na cabeça. Eu não estava muito bem, mas tinha de levá-lo logo.

Eu estava olhando aqueles bichos-pessoas mortos na sala, e em Griffin soterrado pelo seu laboratório, e pensei em como o xerife ia lidar com tudo isso. Foi quando a casa desmoronou e começou a incendiar e a afundar. Parecia algo proposital, como se o doido do Griffin tivesse planejado assim.

Eu já estava a meio caminho da cidade, quando começou um formigamento pelo meu corpo. Em seguida começou a me queimar. Eu desci do cavalo. Estava apavorado. A roupa parecia fazer meu corpo arder. Arraquei tudo, e fiquei nu... ou não fiquei. Eu não via meu corpo. Eu tinha sumido. Desmaiei em seguida.

Não sei quanto tempo fiquei desacordado. Mas, quando levantei, continuava sumido. O garoto resmungou na sela. Disse algo. meio enrolado:

- Eu vou ser escritor, senhor. - e apagou de novo. Sumido ou não, eu precisava levá-lo até o hospital da cidade. Se eu ia conseguir, eram outros quinhentos. Além de estar desaparecido, a explosão também me deixara bem ferido. Acho que não morri graças a essa maldita cicatriz e ao que ela faz comigo. Mas, quem sou para reclamar. Vamos, Irving, vamos logo.

Esperava que o efeito daquele troço que bebi passasse logo. Irving leva tudo aquilo numa boa, mesmo sem me enxergar. Precisávamos chegar a Smithson Town, e eu esperava que meu corpo reaparecesse antes disso. O garoto teve uma aventura mais do que suficiente para escrever livros por uns bons anos. Mas, ninguém iria acreditar nele, então era melhor que ele se contentasse em escrever ficção.




18/12/2014




BATMAN – O FILHO DO DEMÔNIO


Batman – O Filho do Demônio combina ótimo desenvolvimento de personagens em um grande roteiro que realisticamente conta a história na qual Batman deve formar uma aliança com seu grande adversário. Quando um terrorista demente cria uma arma que permite controle sobre o tempo, o Cavaleiro das Trevas une forças com Ra’s al Ghul e sua filha Talia para tentar impedir uma catástrofe de proporções globais. Mas quando o confronto final chega, Batman deve decidir quem irá salvar: o mundo ou a mãe de seu filho!
O link para o gibi está logo abaixo:



BATMAN – OS NOVOS 52: 13 EDIÇÕES PARA DOWNLOAD + ANUAL




TESOURO DE CLÁSSICOS DISNEY – POCAHONTAS – 1998

APESAR DA HISTORINHA ESTAR BEM RESUMIDA É BEM DIVERTIDA E VALE A PENA BAIXAR  ESTE EXCELENTE CLÁSSICO DA DISNEY EM FORMA DE LIVRINHO DE BOLSO






16/12/2014

Quando a pátria é o pensamento

Depois de perder seu país e sua família para o nazismo, o filósofo Vilém Flusser buscou no Brasil caminhos de liberdade e esperança


  • Nascer em 1920 na capital da jovem Tchecoslováquia, numa família de artistas e intelectuais judeus, parecia um privilégio histórico. Praga tornava-se um importante centro cultural da Europa: cidade cosmopolita, composta basicamente de tchecos, alemães e judeus, receptiva aos estrangeiros e admirada por eles. Foi ali que Vilém Flusser passou a infância e a adolescência, antes de se tornar um homem sem chão.
    Desde o início do século, a Universidade Carolina – onde seu pai lecionava matemática e física e o próprio Vilém ingressaria no curso de Filosofia – conquistara notável reconhecimento científico. Grandes personalidades foram acolhidas na instituição: entre 1901 e 1906, Franz Kafka estudou na Faculdade de Direito; em 1911, Albert Einstein tornou-se professor de física teórica por 16 meses; o filósofo Edmund Husserl aceitou vários convites para palestrar lá; e em 1926, professores tchecos e estrangeiros fundaram o revolucionário Círculo Linguístico de Praga.
    Flusser cresceu imerso naquela atmosfera multicultural e poliglota. Em sua autobiografia, descreve a cidade natal: “A característica de Praga é que sua marca supera todas as diferenças nacionais, sociais e religiosas. Se tcheco, alemão ou judeu, católico, protestante ou marxista, burguês ou proletário: pouco importa. Antes de mais nada se é praguense. Praga é clima existencial, e todos os nivelamentos, com suas múltiplas tensões, ocorrem em tal clima”.
    A fértil convivência de várias culturas e nações seria bruscamente interrompida com a ascensão do nazismo. Em 1938, a Tchecoslováquia foi ocupada pelo exército alemão. A família de Flusser recebeu convites para sair do país, mas entre eles ninguém acreditava na iminente catástrofe. O único que partiu foi Vilém, com a ajuda de sua namorada e futura esposa, Edith Barth. Ele e a família de Edith se refugiaram primeiro na Inglaterra e um ano depois, em 1940, chegaram ao Brasil.
    Ainda no porto do Rio de Janeiro, Vilém soube da morte do pai. Pouco depois, veio a notícia do falecimento da mãe e da irmã. Todos assassinados nos campos de extermínio. Flusser comenta sua fuga e salvação com palavras amargas: quando decidiu abandonar o país, sacrificou a dignidade em favor da sobrevivência do corpo. Sua vida se tornou sem fundamento, sem chão, bodenlos em alemão – o título de sua autobiografia.
    Os primeiros anos no Brasil foram bastante penosos. Os Barth e o casal Flusser passam a residir em São Paulo e Vilém tenta sustentar a família, agora com filhos, como funcionário de uma empresa tcheca de importação e exportação, ofício para o qual não tinha a menor vocação. Ao longo dos anos 1950, sua situação começa a melhorar: trabalha no texto sobre a história de ideias do século XVIII (entre 1950 e 1951); conclui o ensaio Século 20 (1957)e escreveA história do diabo (entre 1957 e 1958). Nessa época abandona suas atividades comerciais, aproximando-se de um grupo ligado ao Instituto Brasileiro de Filosofia. Nunca deixa para trás, entretanto, sua condição de imigrante, entendida como uma situação existencial particular: “A imigração é processo dialético, no qual o imigrante recebe o impacto do ambiente e o ambiente, o impacto do imigrante. O resultado do processo, se coroado de êxito, é a alteração de ambos os fatores”.
    Como intelectual, filósofo e escritor, focou seu campo de engajamento na língua – a língua portuguesa. O português brasileiro era para ele matéria bruta que exigia um autêntico trabalho de poeta. Achava-o jovem e essencialmente diferente do português original, cuja linearidade, que provém do latim, rompia-se nos trópicos ao incorporar estruturas linguísticas dos idiomas indígenas, africanos e do japonês. Esse novo tipo de língua deu ascendência a um novo tipo de pensamento e, com isso, a um novo tipo de homem.
    O engajamento de Flusser na cultura brasileira foi um verdadeiro desafio, e a recepção de suas atividades comprova que o cumpriu de maneira extraordinária. Nos anos 1960, colaborou com a Revista Brasileira de Filosofia e publicou regularmente seus ensaios no suplemento literário do jornal O Estado de S. Paulo e em outros periódicos. Em 1962, Flusser torna-se membro do Instituto Brasileiro de Filosofia e passa a ensinar, principalmente, história da filosofia, filosofia da linguagem e filosofia da ciência na Universidade de São Paulo (USP), no Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA), em São José dos Campos, e na Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP). Seu primeiro livro, Língua e realidade, publicado em 1963, é uma obra-prima de seu período brasileiro. A ele se seguiram A história do diabo (1965) e a coletânea de ensaios Da religiosidade (1967). Na mesma época foi nomeado cônsul brasileiro para projetos de colaboração cultural nos Estados Unidos e na Europa.
    Flusser criou forte amizade com várias personalidades da cena cultural. Promovia encontros semanais no terraço de sua casa paulistana na rua Salvador Mendonça, no Jardim Europa. Entre os amigos e frequentadores do terraço estavam o poeta Haroldo de Campos, a artista plástica de vanguarda Mira Schendel [Ver RHBN no. 92], o engenheiro Milton Vargas, infatigável parceiro em debates filosóficos, Vicente Ferreira da Silva, um dos poucos filósofos brasileiros que Flusser reconhecia e admirava (embora muitas vezes dele discordasse profundamente) e sua esposa Dora Ferreira da Silva, talentosa poetisa. Todos misturados com jovens estudantes, geralmente amigos de seus filhos, Dinah, Miguel e Victor.
    Um de seus amigos mais famosos foi o escritor João Guimarães Rosa (1908-1967), com quem se encontrava no Palácio do Itamaraty. Flusser lembra de longas conversas com o escritor, desvendando tanto o seu lado humano como a grandeza de sua contribuição à língua e à cultura brasileiras. “E são estas as ‘veredas’ rosianas: viagens em busca de meta. E é este o interior brasileiro rosiano: o território da salvação humana, ‘utopia’, portanto lugar não encontrável em mapa. Pois tal utopia vive na memória dos brasileiros como realidade concreta, e deve ser preservada. É método para ‘salvar sua alma’. Mas método periclitante. Porque o diabo que não existe, e que se manifesta poderosamente na realidade atual brasileira, está sempre à espreita (Niquites) para devorá-lo. Esta é a mensagem ‘brasileirista’ de Rosa”, escreveu.
    Os encontros com Miguel Reale (1910-2006), um dos líderes do movimento integralista, aconteciam em sua biblioteca. Flusser comentava que o anfitrião estava quase sempre cercado de admiradores e carreiristas, mas geralmente conseguiam conversar sobre temas que interessavam aos dois: historicidade, responsabilidade e liberdade. Para ele, Reale era um dos poucos brasileiros dedicados de corpo e alma ao ideal da liberdade, mas apesar de suas convicções nobres, como político agia a favor da tecnocracia – o desenvolvimento da economia de maneira técnica, apostando em uma libertação futura. Neste paradoxo, Flusser percebe sua tragédia: “ele se propõe a sacrificar-se em prol da sua sociedade”.
    Os anos da ditadura foram complicados para políticos, estudantes, intelectuais, artistas, pessoas comuns. Flusser não sofreu nenhuma ameaça direta, porém seus horizontes começaram a se restringir palpavelmente no final da década de 1960. Importantes meios de comunicação, imprescindíveis para ele, fecharam-lhe as portas – como O Estado de S. Paulo, a Folha de S. Paulo e a USP. Os que restaram limitaram suas atividades cada vez mais. Era evidente que Flusser, por seu gênio forte e ideais ousados, passara a ser desconfortável para muitos. E pior, ele próprio desconfia do sentido de seu engajamento no Brasil. Numa das cartas para Dora Ferreira, em 1975, escreve: “comecei a duvidar da minha ‘vocação’. Como querer provocar dúvidas na juventude, que é podada se duvida? E como querer provocar dúvidas num contexto que, talvez, ‘objetivamente’ exige ‘pé na tábua’?”
    Em 1972, Vilém e Edith retornaram para a Europa. Mudaram-se para Merano, uma pequena cidade na Itália, e depois para Robion, na Provença francesa, onde Flusser morou pelo resto da vida, até 1991.
    Mesmo distante do Brasil e depois de conquistar fama na Alemanha, Vilém Flusser nunca deixou de atuar no ambiente brasileiro. Atendia com frequência a convites para palestras e continuou a escrever em português até a sua morte. Em 1979, a editora Duas Cidades publicou a coletânea de ensaios Natural:mente e, em 1983, Pós-história. Seu livro mais famoso, A filosofia da caixa preta: ensaios para uma futura filosofia da fotografia, de 1983, foi traduzido para o português pelo próprio autor e publicado no Brasil em 1985.
    Vilém Flusser nunca adotou o Brasil como segunda pátria. Mas o país e seu povo representaram para ele um campo de engajamento e de esperança, dos quais jamais desistiu.  

13/12/2014

PINK FLOYD




The Endless River (2014)


01. Side 1, pt. 1: Things Left Unsaid
02. Side 1, pt. 2: It's What We Do
03. Side 1, pt. 3: Ebb and Flow
04. Side 2, pt. 1: Sum
05. Side 2, pt. 2: Skins
06. Side 2, pt. 3: Unsung
07. Side 2, pt. 4: Anisina
08. Side 3, pt. 1: The Lost Art of Conversation
09. Side 3, pt. 2: On Noodle Street
10. Side 3, pt. 3: Night Light (
11. Side 3, pt. 4: Allons-y (1)
12. Side 3, pt. 5: Autumn '68
13. Side 3, pt. 6: Allons-y (2)
14. Side 3, pt. 7: Talkin' Hawkin'
15. Side 4, pt. 1: Calling
16. Side 4, pt. 2: Eyes to Pearls
17. Side 4, pt. 3: Surfacing
18. Side 4, pt. 4: Louder Than Words
19. TBS9
20. TBS14
21. Nervana



pra baixar clique aqui

UM DOS ALBUNS MAIS IMPORTANTES DO ANO. BAIXE E SABOREIE.
abaixo alguns vídeos deste albúm maravilhoso.









ACESSE ESTE SITE:








09/12/2014

UMA SATISFAÇÃO:

PENSEI MUITO SOBRE ESTE BLOG. COM O TÉRMINO DAS AULAS, ACHEI QUE AS
VISITAS IRIAM ACABAR. LEDO ENGANO. AS VISITAS CONTINUAM. ENTÃO        A
SOLUÇÃO É CONTINUAR. PENSEI EM PARAR. APAGAR ESTE BLOG A QUAL EU  E
MEU AMIGO, O BRILHANTE PROFESSOR VITOR USAMOS MUITO NO   DECORRER
DESTE ANO. MAS VEJO QUE TODOS OS DIAS, ALGUNS ALUNOS PASSAM        POR
AQUI. E DESEJAM NOVIDADES. POIS BEM, VOU CONTINUAR E COM NOVIDADES
PARA TODOS.
A SAUDADE QUE SINTO DAQUELES QUE SE FORAM É GRANDE. PERDI   ALUNOS
E AMIGOS MARAVILHOSOS. PERDI PARA O FUTURO. MAS A SAUDADE          QUE
FICOU É ETERNA.
QUE DEUS ABENÇOE A TODOS.
EGON

01/12/2014

Enterro de Roberto 

Bolaños será ainda nesta 

segunda-feira na Cidade 

do México


Ao que tudo indica já foi decidido onde será o sepultamento do ator e diretor Roberto Gómez BolañosInformações da Televisa, a principal rede de TV mexicana, apontam que o criador de Chaves será sepultado ainda nesta segunda-feira no cemitérioPanteón Francés, na Cidade do México. O local é conhecido no país por ser o mais procurado para sepultamento de pessoas ilustres. Lá estão também os restos mortais do importante diretor de cinema Miguel Zacarías e da atriz mexicana María Félix.